24 de fev. de 2017

Positivismo, orientalismo e darwinismo social: por que a sociedade ainda é tão primitiva?

Era um momento escuro na França. Regimes despóticos e intermináveis alternavam entre si e a população passava fome. Eis que Saint Simon, um dos principais defensores dos ideais iluministas, contou a Comte, seu bff❤, o que ele achava da sociedade. Mostrou-lhe, na história, as vantagens do racionalismo e o quanto o desenvolvimentos de técnicas foi uma mão na roda para a humanidade (literalmente).
Comte, que não era besta nem nada, estava louco para sair da escuridão e todo mundo sabe que, nessas horas de crise, uma loucura cai muito bem. Usou-se dos recursos científicos que tinha e passou a aplicá-los na sociedade, como se ela fosse um objeto de estudo. Concluiu que a ciência é essencial para organizar a sociedade e que era a chave para levá-la ao progresso.
Nessa linha de raciocínio, acabou dividindo o desenvolvimentos social em fases, baseadas em sua Lei dos Três Estágios: teria a sociedade passado por uma fase teológica, onde não se pensava, apenas se acreditava; uma fase metafísica, onde havia tido uma misturinha de religião e cientificismo; e a fase positiva. Bem sugestivo dizer que a última etapa, que você já deve ter entendido que é inteiramente científica, é positiva, um estágio muito bom.
Difícil não comparar os estágios de evolução da sociedade com os da evolução das espécies (talvez nem seja tão difícil diferenciar humanização de hominização). EU SEI... não foi Comte que criou o darwinismo social, mas ele chegou bem perto. Baseado nisso,  tornou-se natural (no sentido mais enraizado dessa palavra) falar sobre sociedades primitivas e desenvolvidas... como se aquelas que tivessem chegado ao terceiro estágio fossem perfeitas. Pois bem, não eram e não são. Comte quebrou a cara quando viu que cidades industrializadas portavam indivíduos sem moral nenhuma e que só se preocupavam com dinheiro. Eis que ele criou uma religião científica (a religião da humanidade) para desempenhar o papel daquelas religiões que ele julgava primitivas: moralizar as pessoas. Claro que ele não criou nenhum Deus, mas imortalizou intelectuais para que se desenvolvesse altruísmo voluntário entre os indivíduos. Não por causa de algum Deus, mas para que houvesse ética e depois a ordem. Essa parte, eu confesso, é bonitinha, mas ainda é positivismo e faz aqueles que chegaram ao terceiro estágio se sentirem ainda mais superiores. Bom, continuando... daí surgiu o lema "O amor por princípio e a ordem por base. O progresso por fim". Te parece familiar?
Well, well... a respeito do Darwinismo Social, que foi citado anteriormente, ele, juntamente com o pensamento positivista, deu caminho para diversas formas de preconceito que existem até hoje. Aliás, se pensar melhor na teoria de Darwin, quando se fala em diferenças entre uma mesma espécie e se pergunta se são vantajosas ou não, a resposta é uma: depende. Quando se fala em evolução e se pergunta se é sinônimo de progresso, a resposta é certa: não. Então por que, até hoje, sente-se tanto a necessidade de julgar o que é superior? Por que as sociedades ocidentais falam e escrevem tanto sobre as orientais? Sabia que os orientais nem falam tanto da gente? E por que são sempre os mesmos pensamentos sobre um tema só? Ora, porque ainda é vigente um pensamento positivista, ainda se acredita no mito da superioridade do homem branco, ainda se pensa, equivocadamente, sobre o darwinismo na sociedade.
O segredo do progresso não é um civilizar o outro para que se possa viver melhor. Darwinismo Social que é Darwinismo é cada sociedade se adequar à sua própria condição, então alcançar a ordem e, consequentemente, o progresso. E quem sabe o amor. É ou não é?

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